terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Devaneios ao Fogo - Texto de apoio (Projeto - Primeiro Original)

O trecho que segue abaixo é parte do material de apoio que escrevi para auxiliar no desenvolvimento de meu livro que está em fase final e enviarei às editoras ainda em 2015 (cruzando os dedos). Como o autor normalmente fala por meio de seus personagens, pode-se dizer que as palavras são tanto minhas quanto do Aldesfer, meu bom amigo criado no final do ano de 2011, fruto do meu apreço por pessoas idosas. Então, que venha a carta do Mago Vermelho.

(…)



DEVANEIOS AO FOGO

Onde há vida, haverá morte. Onde há felicidade, haverá tristeza. Onde há prazer, haverá dor. Onde há o bem, haverá o mal. Dualidade é uma das leis universais mais evidentes em nossas vidas.

Por mais que as leis dos homens possam ser quebradas, o mesmo não se aplica às leis do inexplicável, cujo decreto é implacável e irrevogável. E se há algo que rege o ciclo de acontecimentos onde a dualidade atua, este algo é o tempo.

O mundo foi palco de tantas eras que mesmo a história de todas as sociedades humanas somadas não significa mais que um quarto de um grão de areia em meio a outros incontáveis grãos contidos na ampulheta do tempo. Diferentes raças… diferentes histórias… Algumas tão incríveis durante sua existência, outras tão miseravelmente irrelevantes para aqueles que vieram após. E em nenhuma outra era houve raça tão incontrolavelmente ambiciosa quanto o ser humano. O homem é, sem dúvidas, a criatura mais faminta que já passou pelo mundo: seus olhos não se contentam em enxergar para sobreviver. São olhos que precisam de belas imagens. Contudo, ser belo também não basta; os olhos humanos precisam alimentar-se de algo novo e diferente todos os dias. Praias, montanhas, florestas, tudo precisa ser visto, e quando tudo não for mais novidade, ele encontrará um jeito de alimentar a visão com alguma outra coisa. Além dos olhos, os ouvidos também sentem fome. Fome de belas melodias e dos mais variados sons que o mundo e todas as outras criaturas que fazem parte dele podem oferecer. E quando todos os sons tiverem sido ouvidos, o homem encontrará uma forma de saciar esta vontade de alguma maneira ou de outra. E é claro que a palavra fome também deve ser aplicada para a busca por alimento. O homem come tudo o que vê, e mesmo quando está satisfeito, continua comendo. Come as plantas, árvores e seus frutos. Come outros animais, e em alguns casos até outros homens. Talvez, pelo menos neste aspecto, o ser humano se pareça mais com os outros seres desta era. Enfim, se uma lista fosse feita com todas as necessidades humanas, poder-se-ia escrevê-las em papel e empilhar as folhas para que formassem um pilar que atravessaria o céu, caso não acabasse o papel e a tinta das penas antes, é claro.

Mas, por mais que toda a existência possa parecer insignificante perante a presença do tempo, não pode deixar de ser relevante para aqueles que vivem em seu tempo e acreditam que suas vidas possuem algum sentido maior do que eles possam compreender por completo. Ah, sim, essa é mais uma das necessidades humanas. O homem precisa de uma razão para viver. Talvez por isso suas lendas sejam tão interessantes. Diante de tantas vontades, não é de se estranhar que os humanos possuam tantas histórias para contar. Afinal, não é fácil viver todos os dias em busca de algo, e nunca sentir-se totalmente saciado.

Enfim, não penso que alguém irá um dia ler esta carta, mas precisava escrevê-la mesmo assim. Para finalizar os devaneios, escrevo abaixo as palavras daquele que um dia foi o mais entusiasmado, egoísta e talentoso músico que já conheci. Meu aprendiz e amigo…

A vida é uma melodia que pode ser triste ou feliz, dependendo de como você a toca… E como hoje acordei de bom humor, será uma melodia alegre, contanto que me prestigiem com uma peça de prata quando terminar a canção, ou ao menos me paguem uma bebida”.

Para ser justo, devo inserir também alguma memória de um outro grande amigo, afinal de contas éramos três, e odiaria que ele encontrasse esta carta e percebesse que não fiz nenhuma menção a ele. Até porque, eu sempre impliquei com o sujeito, aproveitando do seu excesso de paciência, mas a verdade é que este é o típico caso onde o aprendiz é mais sábio que o mestre. Que constrangimento... espero que ele nunca leia esta carta…

Apenas uma coisa é mais poderosa que a vontade de um deus: a convicção de um homem”.

Viu? Não disse que ele fala como um sábio? Do tipo que fala pouco, mas diz muito. Desgraçado…

Eu poderia citar muitas outras coisas que fazem sentido pelo menos para mim, mas já é hora de terminar esta carta. Sou péssimo com encerramentos, e também não costumo ser formal, então deixo aqui nada mais que um singelo até logo.

Aldesfer Duragan

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