quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Personagem: Helene

O texto abaixo foi escrito para servir de material complementar ao desenvolvimento de uma das personagens. Já mostrei um pouco sobre Aldesfer no post anterior, hora de dar uma amostra de Helene.

(…)



Ser uma ladra era como ser presa e predador ao mesmo tempo, ainda mais depois de ter se envolvido com a guilda: um erro que ela desejou jamais ter cometido. John Silencioso nunca a deixaria viver. Mesmo que ele não fosse capaz de encontrá-la tão facilmente, o máximo que ela conseguiria seria alcançar um estado de sobrevivência que de maneira alguma poderia ser chamado de vida. Fugindo, cavalgando, se escondendo. A furtividade é um requisito básico para o ladino, mas aquele que vive nas sombras, um dia acaba por se tornar uma. E ela não queria terminar assim.

Galopou pelo labirinto verde, ziguezagueou por entre as árvores, atravessou os córregos. Tal qual uma cavaleira experiente, ou talvez melhor. Nenhum dos ladrões conseguiu acompanhá-la. Escondia o dourado dos cabelos sob um capuz marrom, que na noite, parecia negro, e mantinha os punhais escondidos por baixo da manta, presos em uma cinta de couro com bainhas moldadas perfeitamente para comportar as lâminas. Um presente; uma das únicas coisas que ela possuía, e que não era fruto do roubo.

- Vamos ter de passar a noite aqui, amiga – ela disse para a égua, escondida atrás de uma grande rocha coberta por musgos.

Sabia que o animal não podia entender suas palavras, mas sentia-se tão solitária naquele mundo de fuga sem fim, que por vezes gostava de fingir que a égua era capaz de compreender o que ela dizia, e então começava a conversar com a companheira, dando tempo para que ela respondesse. As respostas nunca vinham, mas a ladra inventava uma em sua mente, continuava o diálogo, que na verdade, acabava por ser um monólogo.

- Afinal, ainda somos você e eu, não é mesmo? – ela continuou. – Uma dupla como nós não será encontrada por ladrõezinhos como aqueles, que sequer passaram da base da pirâmide. Se o maldito do John quiser nos encontrar, terá que enviar peças mais habilidosas; os peões não são páreos para nós.

Fez o que pôde para convencer a si mesma de que era durona. E na verdade era.

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