segunda-feira, 7 de junho de 2010

Há vida sem cérebro?

Dor e prazer são parte de duas genealogias diferentes da regulação da vida. A dor vincula-se a punição e a comportamentos como o de retirada ou paralisação. O prazer, por outro lado, vincula-se a recompensa e a comportamentos como o de busca e aproximação.

A punição leva os organismos a retrair-se, paralisar-se,  afastar-se do seu meio. O prazer leva o organismo a descontrair-se, tornar-se receptivo, aproximar-se de seu meio, buscá-lo, com isso aumentando suas chances de sobrevivência, mas também sua vulnerabilidade.
Essa dualidade fundamental evidencia-se em criaturas simples e presumivelmente não conscientes, como a anêmona-do-mar. Seu organismo desprovido de cérebro e equipado apenas com um sistema nervoso simples, é pouco mais que um tubo digestivo com duas aberturas, animada por dois conjuntos de músculos, alguns circulares, e outros  longitudinais.
As circunstâncias em que a anêmona-do-mar se encontra determinam o que esse organismo deve fazer: abrir-se para o mundo – momento em que a água e nutrientes entram em seu corpo – ou retrair-se em uma massa pequena quase imperceptível aos outros.
A essência da alegria e da tristeza, da aproximação e do afastamento, da vulnerabilidade e da segurança é tão evidente nessa dicotomia simples de um comportamento sem cérebro quanto na volubilidade das oscilações emocionais de uma criança que brinca.

Autor - Antônio Damásio