terça-feira, 21 de julho de 2015

Registro na Biblioteca Nacional: O Mestre das Cordas

Este post é apenas para compartilhar a alegria de dar mais um passo rumo a um objetivo que venho focando faz tempo.

Finalmente o meu original (O Mestre das Cordas) foi registrado na Biblioteca Nacional. Recebi a certidão de registro hoje à tarde. (21/07/2015)

Agora é focar no próximo passo, e obrigado aos que têm acompanhado o blog e meus textos!


sexta-feira, 10 de julho de 2015

Trecho Narrativo; O Mestre das Cordas


"Uma nuvem negra tomada por uma misteriosa mistura de sapiência e arrogância contornava um espaço vazio. Após alguns instantes, uma sombra cresceu e deu forma a uma mulher. E todo o breu foi absorvido por ela. Não havia mais sombras nas paredes, nem nos cristais. Toda a escuridão residia nela e em seus mantos enegrecidos. Mas seus olhos eram como gemas de um anil intenso e brilhante, brilhando na escuridão. O sorriso era maliciosamente perfeito, o semblante tinha a confiança de uma deusa, a postura era a de uma rainha.” (página 374, O Mestre das Cordas)

Desenho feito por Dany Rodriguez:

DeviatArt: http://danyrodriguez.deviantart.com/

terça-feira, 16 de junho de 2015

O Conde e o Demônio

O conde recitou o encantamento e as paredes começaram a tremer. Em poucos instantes a obumbração tomou conta de tudo. As chamas das tochas tornaram-se azuis. O símbolo vermelho destacava-se ainda mais no chão, por onde as correntes que se estendiam até a porta começavam a se espalhar como ramificações de tripas e sangue, pintando parte da sala de rubro. Kulack sentiu uma repentina tontura. Apertou as mãos com força, e seu anel brilhou intensamente. Concentrou-se, com os olhos fechados. Suava frio e sentia como se um gigante tentasse esmagar seu corpo. Uma pressão aterradora parecia pronto para implodi-lo, e ele lutava internamente para suportar. Sentiu suas entranhas saírem pela boca, e suas pernas sendo decepadas por foices negras que desapareceram um instante após as cortar. Seus braços sumiram e brotavam de suas costas, esticando-se até a altura do pescoço, onde suas próprias mãos o estrangulavam. Seus olhos se tornaram verdadeiras safiras e faziam sangue jorrar pelas frestas das órbitas. As correntes de sangue se somaram em uma poça rubra, formando uma besta horrenda. Tinha o corpo de um cão selvagem, embora com o dobro do porte, e suas duas cabeças fundiam traços de leão e búfalo, com grandes chifres e juba negra. Na parte traseira, três caudas que terminavam em uma espada, uma lança e uma maça encravada de espinhos. Suas quatro asas eram formadas por uma mistura de escamas de dragão e penas de águia.

Sem prévio aviso, o monstro atacou a aberração que o capitão havia se tornado, afligindo-o com as caudas, triturando-o com os dentes e rasgando sua carne com as garras de cão selvagem. Mas Kulack não morreu. Ele não conseguia morrer. Seus pedaços estripados espalhavam-se por toda parte e, apesar do terror, seus dois olhos de safira ainda tinham luz e eram capazes de enxergar, um em cada canto do salão. A dor só não era maior do que o pavor, e ele estava amaldiçoado a sentir ambos, sempre que conjurasse a magia que burlava as leis espirituais e materiais; sempre que invocava aquele homem...

O símbolo no chão desapareceu subitamente, assim como as ramificações de sangue e o monstro abominável, que simplesmente sumiu como se nunca tivesse existido. Kulack sentia seu corpo voltar ao normal, mas as tochas continuavam azuis. Em sua frente, um homem com porte de guerreiro o observava, vestido em uma armadura negra, mais enferrujada que qualquer peça de metal que o conde já tivesse visto. A própria presença daquele homem o fazia sentir como se ele envelhecesse mais rápido. Parecia apodrecer pouco a pouco, a cada segundo que permanecia na presença dele.

— Ainda não se acostumou, conde? — disse o guerreiro, com um tom de desdém. Sua voz era inumana, como se vários homens falassem ao mesmo tempo, gerando um som nada agradável de ouvir. 

— Não sou um demônio como você, nunca irei me acostumar — rebateu Kulack, limpando o suor da testa com as costas das mãos, cansado após a tortura que seu espírito e sua mente haviam passado.



quarta-feira, 20 de maio de 2015

Resumo - O Mestre das Cordas

Recentemente terminei de revisar o original do meu livro. Já iniciei o processo para o registro da obra junto à Biblioteca Nacional, então, começa a saga para ser publicado. Abaixo, um resumo da história. Espero que curtam! :)

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sexta-feira, 27 de março de 2015

Influências Musicais (Parte II)

Continuando as postagens sobre minhas influências musicais. No primeiro texto sobre o assunto, iniciei citando a banda Red Hot Chili Peppers. Mas a verdade é que Red Hot foi apenas a porta de entrada para uma era que iniciou no começo da minha adolescência e se prolongou quase até o final dela. Uma época em que eu achava - ou melhor, tinha certeza - que eu era GRUNGE.

E lá se foram horas e horas de Nirvana, Alice in Chains, Mudhoney, L7, Soundgarden, Temple of the Dog...

Posso dizer que a banda que mais me marcou nesse período foi o Nirvana. Suas músicas são um prato cheio para todo e qualquer adolescente que se acha único na sociedade e possui energia de sobra para falar de revolta, injustiça e loucura. Foi por causa do Nirvana que eu aprendi a tocar guitarra (minha primeira música foi Polly), e apesar de todas as minhas dificuldades no instrumento, ao longo dos anos eu acabei aprendendo a tocar TODAS as músicas da banda. Sim, isso mesmo, todas. Ok, não são difíceis, Kurt Cobain não era um guitarrista virtuoso. Mesmo assim, houve uma época em que eu havia decorado todos os acordes de todas as músicas, e as tocava incessantemente.

Passei alguns anos usando apenas calça jeans rasgada, flanela e All Star - naquela época era um tênis barato. Andava sempre com um violão ou uma guitarra nas costas, bebia vinho que não custava mais que R$ 2,00. Saía de casa com o dinheiro contado para pegar o ônibus de volta, mas acabava gastando as moedas com bebida ou alguma porcaria de comer, voltava a pé.

Não há orgulho, muito menos arrependimento do que vivi naquela época. Eu era adolescente e estúpido, o que é quase um pleonasmo, eu sei.

A verdade é que Nirvana marcou aquele período da minha vida, e aqui vai uma música da banda para encerrar o post (optei por uma que não fizesse parte do tão famoso Nevermind. Infelizmente ela não possui clipe oficial, então escolhi um vídeo que tivesse a letra da música):

Frances farmer will have her revenge on Seattle


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O Velho Criador

Dentre todos os medos prevalece um. Aquele que está lá no fundo, sempre esteve, e sempre estará. O receio de que tudo é em vão. Uma sensação de vazio eterno donde surgem os deuses, emergindo de nossas cabeças e nos mantendo ocupados através da adoração. Uma máscara à realidade, um lapso que nos acolhe o suficiente para que nossa efêmera vida acabe antes que percebamos o inevitável: somos também parte do temeroso vazio. Não o vazio do universo, pois este é mais do que vasto, e por não sermos capazes de mensurá-lo, o chamamos de infinito. Mas sim o oco da existência que insiste em encontrar significado onde não há, e perde a única chance de ser mais que um eco de uma voz distante e irrelevante, perdida na escuridão.

(...)

O quarto estava escuro demais. Sendo ele Deus, deveria ser capaz de iluminar aquele local, pelo simples fato de desejar aquilo. Mas não conseguia, não importava o quão forte imaginasse e desejasse. Sua vontade simplesmente não se realizava. Segurou sua bengala com força e a apontou para a lâmpada apagada no teto, mentalizou as luzes amarelas, em vão. Estava começando a detestar tudo ao redor, e quando Deus se enfurece, o mundo sofre. Atirou a bengala para longe, usou toda a força que tinha para se levantar da poltrona, deu dois passos para frente, buscando a velha mesa de madeira, mas caiu antes de conseguir chegar até ela.

Era como um gigante caindo de um céu escuro, em um chão ainda mais negro, num mundo repleto de obumbração. Por que a vontade de Deus não se tornava realidade? Enquanto refletia sobre aquilo, caído no chão, com a mão enrugada a meio metro da mesa, chegou a algumas conclusões óbvias.

Eram os fiéis. Só podiam ser os fiéis, ou melhor, aqueles que um dia o foram. Oravam menos, e com menos fé. A ciência os havia estragado, contaminado a todos. Os homens gostam de brincar de Deus, trancados em seus laboratórios, com seus pequenos experimentos... e ainda dizem que estão fazendo o bem. Quanta heresia, quanta insolência! Deus é apenas um, e estava desamparado, fraco, abandonado por sua criação. Uma raça ingrata, que o trancara em um quarto escuro e clamava por ele quando precisava de ajuda.

Chega de perdão, chega de misericórdia, queimarei a todos! Só preciso... de um pouco mais de força.

Usou o resto de suas energias para se arrastar até a mesa, mas já não era capaz de se levantar e pegar o que queria. Encarou a perna da mesa por alguns segundos, mas então desistiu. Baixou a cabeça, encostou a face no chão gélido, e assim ficou até adormecer.

Quando acordou, estava sentado na poltrona, na mesma sala, mas ela estava bem iluminada, com as duas janelas abertas deixando os fortes raios de sol entrar. Olhou para a mesa e enxergou o que queria. Uma foto emoldurada em um alumínio que fingia ser prata, com figuras de rosas metálicas em cada canto. A imagem era a de uma família feliz. Estava ao lado de sua esposa, ambos vinte anos mais jovens, com seus dois filhos a fazer caretas, um tentando ser mais engraçado que o outro. E atrás, o mar azul, o céu azul, o mundo azul.

Olhou para o céu, pensou que Deus era irônico, mas complexo demais para que ele pudesse entender. Não precisava tanto assim da bengala, tirou-a do colo e a deixou cair no chão. Caminhou até o porta-retrato, retirou a foto do vidro e a contemplou por ao menos meia hora. Depois, enrolou a fotografia em um pequeno cilindro, e o comeu sem sequer mastigar, deixando todo o canudo passar por sua garganta, como se seu corpo tragasse as memórias, devorando-as como um demônio devora as esperanças dos fracos.

Foi até a parede, tirou seu diploma de biólogo da frente do cofre e girou o disco com as marcações numéricas até a combinação duzentos e vinte e quatro. Pegou a faca prateada que lá estava, sentou de novo na poltrona, e começou a se esfaquear na barriga, enquanto gargalhava sem parar. Fez isso até seu sangue se esvair o suficiente para desmaiar, e por fim, desfalecer. O pequeno riacho vermelho escorreu pelo belo tapete verde e negro, até chegar à escrivaninha, onde havia deixado sua última carta, dizendo:

Por favor, ajudem o Pai! Por favor... não me abandonem!

E essas foram suas últimas palavras, bem abaixo de um vidro de fenobarbital, e outras pílulas que ele deveria ter tomado. Infelizmente, seus filhos estavam longe demais naquela semana. Compromissos de trabalho, férias programadas, enfim, eram muitas as desculpas.

Seja um deus ou não, o risco é irremissível: leva-se tempo, mas as crias abandonam o criador.

A Eterna Luta: Livro e HQ Vs Filme e Série

Você provavelmente já ouviu, leu, ou mesmo disse uma frase semelhante às que seguem abaixo:

"O filme é simplesmente uma bosta! Não passa a profundidade da HQ!"
"O personagem da série sequer existe no livro, isso é tosco!"

Eu mesmo já lutei ao lado da tropa que defende Livros e HQs com unhas e dentes. Hoje já não me importo tanto, e vou dizer o porquê.

É quase certo que nenhuma adaptação para o Cinema ou TV vai conseguir abstrair toda a essência de uma história primeiramente feita para a literatura. Até porque, não somente a história em si é importante, mas a maneira como ela é contada. É por isso que se fala em "adaptação", pra início de conversa.

Tem uma galera que adora falar mal dos filmes baseados em HQs ou mesmo de séries de TV adaptadas da literatura, como é o caso de Game of Thrones, cuja fonte são os livros do George R. R. Martin: As Crônicas de Gelo e Fogo.

Mas, partindo do princípio que as críticas sejam referentes às mudanças em relação a história original, e não aos defeitos comuns inerentes de todo filme e série, ainda assim é preciso levar em consideração uma série de fatores. Por exemplo, o público alvo do livro pode não ser exatamente o mesmo da série ou filme. Outra coisa, os orçamentos para filmes e séries são limitados, mas o mesmo não acontece nos livros e HQs, onde a história depende muito mais da imaginação e do talento do autor.

Diversas modificações impactam ainda mais no âmago da história original de determinadas obras. Algumas feitas especialmente para fins comerciais, outras procuram tornar factível o universo construído para suportar aquela história no Cinema ou na TV, e essas alterações são as que mais irritam os fãs. 

Um caso bastante conhecido é o do filme Watchmen, baseado na HQ de mesmo nome da DC, escrita por Alan Moore. Quem leu as revistas e viu o filme, com certeza pôde notar algumas mudanças, a mais marcante delas no final. Muito já foi debatido sobre o porquê de tal alteração, e muitos concordam em dizer que se dá devido ao fato de que, na época em que a revista foi lançada, aquele tipo de final era mais propício do que agora, portanto, uma alteração seria necessária para manter o "clima" do filme uniforme e conivente do começo ao fim. E, opiniões à parte, não vi nenhum problema com o desfecho, apesar de eu ser um fã assumido da obra original.



Então, acredito que a verdade seja esta: não adianta esperar que HQs e livros sejam retratados fielmente no Cinema, ou mesmo na TV. Isso não vai acontecer, e é normal mesmo que não ocorra. São mídias bem diferentes, com recursos próprios e singularidades inerentes. Agora, você pode ser aquele cara que vive falando mal do filme ou série pelo fato de eles não serem fiéis às histórias originais, ou pode simplesmente curtir a adaptação. E claro que isso não te impede de criticar as adaptações, até porque, se você não gostou e quiser se expressar, é um direito que te cabe. Mas não seja aquele chato que vive enchendo o saco, dizendo que fã que é fã tem que ler o livro ou a HQ, e que a verdadeira essência está somente nestas duas últimas mídias citadas. Claro que você pode divulgar o livro, sugerir, principalmente aos amigos que você pensa que podem vir a gostar da história original de determinada obra. Mas, siga a filosofia do Sr. K: faça o que quiser, mas não encha a porra do saco.