Nota do Phil do Futuro (2014): bom, este texto foi escrito há alguns anos, numa época em que eu escrevia o que me vinha à cabeça, e não me preocupava tanto com a organização das ideias, mas sim com a liberdade da escrita em si, e em extravasar opiniões (fossem elas momentâneas ou sólidas) sobre qualquer assunto. O texto abaixo seguiu a linha de raciocínio que eu tinha na época, e foi escrito conforme eu ia pensando, sem revisões ou coisas do tipo. Deixo ele salvo aqui apenas por se tratar de um arquivo que me ajuda a olhar para o passado e analisar se tive alguma evolução não somente na escrita, mas na maneira de enxergar as coisas. Hoje tenho uma filosofia um pouco diferente: faça o que bem entende, só não me encha a porra do saco. Mas você vai perceber que as palavras abaixo ilustram uma opinião muito mais direcionada, e que hoje eu já não julgo como certa ou errada, porque não me importo. Bom, já advoguei a favor do meu Eu do passado, até mais.
"Acima de tudo, é preciso ter respeito por toda e qualquer forma de vida, seja ela consciente ou não."
É partindo desta premissa que meu raciocínio segue e desenvolve este texto.
(...)
"Acima de tudo, é preciso ter respeito por toda e qualquer forma de vida, seja ela consciente ou não."
É partindo desta premissa que meu raciocínio segue e desenvolve este texto.
A vida na Terra é um grande sistema, onde tudo contribui para
tudo, diretamente ou indiretamente. Então, por meio deste texto pretendo
mostrar minha análise sobre esse sistema e sobre a supervalorização de algumas
formas de vida.
Estive lendo alguns sites sobre vegetarianismo, e percebi que
muitas pessoas se agarram a um motivo específico como principal razão para
parar de comer carne; um dos motivos é a morte dos animais. Claro que não se trata apenas da morte, mas da dor, sofrimento e
agonia, que nós como seres humanos dotados de empatia, sentimos quando vemos outro
ser vivo e com sistema orgânico semelhante ao nosso passar por mutilações e
sofrimentos abomináveis. Quando digo “sistema orgânico semelhante ao nosso” me
refiro ao fato de os animais terem órgãos internos, terminações nervosas,
órgãos sensoriais, entre outras características que nos diferem e muito dos
seres vivos de outros "reinos", como os vegetais por exemplo, mas isso vou
retomar mais tarde.
Também não é meu objetivo me opor aos vegetarianos ou seja lá quem
for. Longe disso. Até admiro aqueles que seguem uma linha de pensamento
construtiva e que pensam nos outros seres (não apenas humanos), pois levo em consideração tudo aquilo que possui vida, desde o animal mais complexo e estruturado, até
ao menor ser unicelular que possa existir, e que pelo fato de ter uma vida assim tão “simples”, não deixa de ser tão complexo quanto o primeiro que citei.
Agora, por favor, tentem seguir essa linha de raciocínio: todo o
sistema de vida na Terra está interligado. Um ser vivo só pode se alimentar de
algo que também já tenha sido vivo. Soja, milho, vegetais em geral, frutas,
tudo isso é orgânico, tem sua própria maneira de se
desenvolver, de se adaptar, de tentar se proteger; resumindo: é uma forma de
vida. Claro que até onde sabemos e compreendemos essa forma de vida não possuí
um padrão de consciência; não sentem dor, etc. Todos usufruímos dessas formas
de vida para a obtenção de energia, e assim continuarmos vivos. Plantamos,
colhemos na época certa, preparamos e comemos, é assim que funciona o nosso ciclo
de absorção de energia quando usufruímos de vegetais e cereais, por exemplo.
Em relação ao mundo animal. Existe todo um sistema envolvido também, assim como
no vegetal. O ser humano tem fazendas, com criação de gados por exemplo. Cria
os gados, os vende, eles são abatidos, chegam nos açougues, nós compramos,
preparamos e comemos, e é assim que funciona o ciclo quando usufruímos da
energia de outros animais. Nesse ciclo, pulei partes importantes que merecem
destaque. Como no caso das criações de gado e outros animais unicamente para abate, onde os animais
são privados de sua liberdade, passam a vida inteira apenas sendo preparados
para depois serem mortos, passando por um processo extremamente doloroso e
cruel.
Ok, isso é verdade.
Enfim, até agora só citei fatos de uma maneira bem breve, mas não
mostrei onde quero chegar. O ponto é: pessoas que não comem carne com base na
premissa “não como
seres vivos, não maltrato, não desrespeito a vida” estão se enganando. A realidade, ao meu ver, é algo bem aceitável, e comum, que não
precisaria ser disfarçada por um lema falso de respeito à vida animal.
As pessoas, principalmente aquelas com empatia, sofrem ao ver
outras formas de vida sofrendo também. No caso dos animais, que são seres
inocentes e movidos pelo instinto, é realmente cruel imaginar esses seres sendo
massacrados um após o outro, triturados, fatiados, muitos ainda vivos e
sentindo dor. E é daí que partem as propagandas sensacionalistas com imagens
comparando cenas de animais em seu habitat natural, vivendo normalmente, e os
mesmos animais tendo suas carnes fatiadas e suas vidas tiradas de maneira
brutal, para o nosso consumo.
A resposta então seria: “não consigo suportar
o fato de que animais passam por tamanho sofrimento, sentem tanta dor e têm
suas vidas tiradas unicamente para nos satisfazer, sendo que nós conseguiríamos
sobreviver sem o consumo de carne, ou seja, sem usufruir da vida animal.”
Porém se a resposta fosse: “Não consigo suportar
o fato de que seres vivos tenham suas vidas tiradas unicamente para nos
satisfazer”, a resposta estaria completamente errada.
Tudo o que pode ser plantado é vivo. A diferença esta na
complexidade desses dois fenômenos distintos, entre a vida vegetal e animal.
Para nós, hoje, é completamente aceitável a diferença entre uma vida animal e
vegetal, pois partimos do conceito que animais sentem e plantas não. Isso já é
o suficiente para simplesmente ignorar a presença da vida vegetal, sem que essa
tenha algum direito de completar o seu ciclo de vida sem nossa intervenção. Mas
não se esqueçam que até esses seres possuem um ciclo, se não forem colhidos na
época certa, o tempo passa, eles envelhecem, apodrecem, e morrem como qualquer
ser VIVO.
Óbvio que nos alimentamos de animais, vegetais, cereais, tudo o
que é vivo. O objetivo não é dizer: não comam os animais, não comam os
vegetais, não comam isso ou aquilo, porque é vivo. Mas sim: aceitem essa
verdade. Hoje existe uma extrema valorização da consciência, e a mesma vem
tendo seu conceito alterado e modificado por cada pessoa que se julga no
direito de fazê-lo. A verdade é que não é preciso ter consciência para ter
vida, não importa se estamos falando de um vegetal ou de um animal; vida é
vida. Infelizmente, para conseguirmos os nutrientes necessários para nos mantermos vivos é necessário usufruir de outros seres vivos, esse ciclo é marcado por
constantes sacrifícios e constantes revitalizações. Os seres nascem e morrem.
Simples assim. Complexo assim. Misteriosamente assim.
Ou seja, você poderia dizer “eu não como animais
por causa do meu sentimento de pena em relação a eles, mas isso nada tem a
ver com meu respeito para com seres vivos.”
Assim você estaria pelo menos expondo a verdade, para si mesmo e
para os outros.
O primeiro ser vivo de que se tem conhecimento no nosso planeta é
uma bactéria. E a partir dela foram formando-se outros seres vivos, que deram
origem a todos os seres que conhecemos hoje na Terra. Agora, você pode
simplesmente ignorar o fato de uma bactéria ser algo vivo, por saber que hoje
existem seres mais complexos, ou aceitar a verdade, de que uma bactéria é tão
viva quanto o frango que você não comeria, por não querer tirar a vida dele.
Sendo que logo depois é provável que você mate o inseto que pousou na sua
perna, simplesmente porque ele está lá. Se você acha que uma
mão gigante esmagando um ser minusculo é algo diferente de crueldade, eu
realmente não te entenderia.
As pessoas têm seus motivos para optar entre comer ou não comer
determinadas coisas, e ninguém tem nada a ver com isso. Mas antes de querer
convencer alguém (ainda mais usando meios sensacionalistas para isso) de que
comer isso ou aquilo é errado, pelo menos use os argumentos certos, e exponha
verdades.
Não é a consciência que torna algo vivo ou não.
Do mesmo modo que uma pessoa em estado vegetativo não deixa de
estar viva por não estar consciente. Claro que um ser humano ou um animal se
diferem de uma planta, mas mesmo que um ser não possua cérebro, vida é vida.
“Quando foram mostrados rostos conhecidos a um paciente
inconsciente em estado vegetativo persistente, a chamada área da face (a junção
occipitotemporal, no giro fusiforme) acendeu-se em um exame de tomografia
funcional, á semelhança do que ocorre em pessoas normais e conscientes das
impressões de seus sentidos. A moral da história é simples: a capacidade de
produzir padrões neurais para algo a ser conhecido é preservada mesmo quando a
consciência não esta mais sendo produzida” - Antonio Damásio