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É preciso não esquecer que para a maior parte dos homens é de grande importância supor que sua existência atual terá uma continuidade indefinida após a morte. Vivem então mais razoavelmente, comportam-se melhor e permanecem mais tranqüilos. Acaso não temos séculos e séculos á nossa frente e não dispomos de uma duração infinita? Então para que essa precipitação que não tem sentido?
Naturalmente nem todos pensam assim. Há pessoas que não sentem nenhuma necessidade da imortalidade e que se arrepiam á idéia de ficar durante milênios sentados numa nuvem tocando harpa! Também há outros tão maltratados pela vida e que experimentaram tal desgosto pela própria existência, que um fim absoluto lhes parecerá bem mais desejável do que qualquer forma de continuidade. Mas na maior parte dos casos, a questão da imortalidade é tão premente, tão imediata, tão enraizada, que urge tentar uma concepção a esse respeito, mas como será isso possível?
Minha hipótese é de que podemos alcançar esse propósito graças às alusões que nos envia o inconsciente como, por exemplo, nos sonhos. Freqüentemente recusamo-nos a levar a sério essas indicações porque estamos convencidos de que não há resposta a questão. A este ceticismo, bem compreensível, aliás, oponho as seguintes sugestões: se nos é impossível penetrar na essência de um fenômeno, devemos renunciar a fazer dele um problema intelectual. Ignoro por quais razões surgiu o universo e nunca o saberei.
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O homem deve provar que fez o possível para formar uma concepção ou uma imagem da vida após a morte, ainda que seus esforços seja confissão de impotência. Quem não o fez, sofreu uma perda. Porque a instância interrogativa que fala nele é uma herança muito antiga da humanidade, um arquétipo, rico de uma vida secreta que desejaria juntar-se á nossa vida para perfazê-la.
A razão nos impõe limites muito estreitos e apenas nos convida a viver o conhecido, ainda que com muitas restrições, e num plano conhecido, como se conhecêssemos a verdadeira extensão da vida. Na realidade, nossa vida, dia após dia, ultrapassa em muito os limites de nossa consciência, e sem que saibamos, a vida do inconsciente acompanha a nossa existência. Quanto maior o predomínio da razão crítica, tanto mais nossa vida de empobrecerá.
A razão nos impõe limites muito estreitos e apenas nos convida a viver o conhecido, ainda que com muitas restrições, e num plano conhecido, como se conhecêssemos a verdadeira extensão da vida. Na realidade, nossa vida, dia após dia, ultrapassa em muito os limites de nossa consciência, e sem que saibamos, a vida do inconsciente acompanha a nossa existência. Quanto maior o predomínio da razão crítica, tanto mais nossa vida de empobrecerá.
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O inconsciente nos dá uma oportunidade, pelas comunicações e alusões metafóricas que oferece
Memórias, sonhos e reflexões - Carl Gustav Jung
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Memórias, sonhos e reflexões - Carl Gustav Jung